Vamos falar sobre programas sociais?

“Ah, mas o Temer vai cortar direitos”

Primeiramente, é preciso encarar a real: não temos dinheiro. A política fiscal e economicamente irresponsável que se iniciou no segundo mandato Lula (quase) faliu o país.

Não é possível sustentar tudo o que vinha sendo feito. Dilma, inclusive, já havia começado a cortar também [1].

“Ah, mas tem que cortar logo nas áreas sociais?”

Sim, tem que cortar em todos os lugares em que há sinais de desperdício. Saúde e educação possuem os maiores orçamentos (cerca de R$ 91 bilhões para saúde e R$ 40 bilhões para educação [2]). Não há como fugir.

Programas como o Ciências sem Fronteiras não tem o menor cabimento. Nem a Suíça teria dinheiro pra não só arcar com o ensino superior grátis como ainda bancar experiência internacional para seus pupilos. É ridículo. Esse programa custou em 2015, R$ 3,7 bilhões (o mesmo gasto, por exemplo, com o programa de federal de alimentação escolar) e não possui nenhum mecanismo de avaliação do desempenho dos estudantes como exigência de presença em aulas, boas notas ou direcionamento dos cursos que somos carentes na oferta e que podemos trazer conhecimento de fora [3].

O SUS tem que ser dimensionado ao orçamento. Não adianta ter uma constituição perfeita e não ter dinheiro. Para ser um NHS, (sistema público de saúde inglês), que inclusive no papel é menos ambicioso do que o SUS [4] seria necessário pelo menos duplicar o orçamento da saúde. Como faz isso? Aumentamos os impostos?

Previdência, especialmente a pública, é outro absurdo. A idade média de aposentadoria no Brasil é uma das mais baixas do mundo, inclusive se comparada à de países semelhantes como México ou Chile. O Brasil gasta hoje em previdência em percentual do PIB valores semelhantes aos do Japão ou Alemanha [5], com uma população muito mais jovem. Essa bomba vai explodir mais cedo ou mais tarde.

idade-minima

Até o Bolsa Família precisa ser revisto. As pessoas que melhoraram de vida precisam sair do sistema, outras que pioraram devem entrar, mantendo sempre os critérios iniciais. Aliás, qualquer governo deveria se orgulhar ao diminuir o programa (fazendo menos gente precisar dele) ao invés de se orgulhar em ampliá-lo.

“Ah, mas deviam reduzir a mamata dos funcionários públicos.”

Concordo. Só que é muito mais fácil aumentar a máquina e os salários do que diminuir. Só o Lula criou mais de 4.000 cargos na administração direta federal [6]. Uma hora a conta chega.

“Ah, mas por quê não taxa então os mais ricos, as heranças e as ditas grandes fortunas?”

Porque esse dinheiro é muito mais móvel [7]. Taxá-los poderia significar afugentar os investimentos no país em um momento em que precisamos criar empregos. Ainda, o montande estimado de arrecadação talvez não seja suficiente para cobrir nem parte do rombo no orçamento que temos, quanto mais ampliar o gasto. Quantas vezes a gente vai ter que explicar que não existe almoço grátis? Além do que se fosse fácil, porque um governo dito de esquerda que ficou 13 anos no poder não fez?

Não tem jeito, gente. A situação é grave e o tratamento doloroso. Agora, se não cortarmos os excessos e racionalizarmos o gasto, só resta chamar um padre para dar a extrema unção.

 

Renata K. Velloso

Colaboradora do Terraço Econômico

    [1] http://oglobo.globo.com/economia/governo-corta-mais-de-6-bilhoes-em-recursos-para-saude-educacao-18988015 [2] http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/cidades-saude-e-educacao-lideram-valor-de-cortes-no-orcamento.html [3] http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/07/1794800-ciencia-sem-fronteiras-nao-vai-mais-dar-bolsa-para-aluno-de-graduacao.shtml [4] https://terracoeconomico.com.br/o-sus-e-um-sonho-possivel [5] http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/10/1695317-sem-reforma-gastos-com-previdencia-vao-a-r-1-trilhao-em-2050.shtml [6] http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0102201002.htm [7] http://noblat.oglobo.globo.com/editoriais/noticia/2015/01/nao-funciona.html

Renata Velloso

Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, Renata tem muito. Logo após se formar em Administração Pública pela EAESP-FGV, trabalhou no mercado financeiro com passagem pelo Citibank, Chase e JPMorgan. Certo dia, cansada da vida boa e rica no ar condicionado, resolveu abandonar tudo para ir estudar Medicina na Unicamp, onde se formou em 2010. Atualmente, além de ser bela e recatada, trabalha com projetos de inovação na área de saúde no Vale do Silício na Califórnia e também é autora do Criando Unicórnios, um livro de empreendedorismo para jovens e adolescentes.
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