Ruim com Temer, pior sem ele: 6 gráficos que mostram a evolução econômica do governo

Finalmente, soubemos o resultado deste longo processo de impeachment: com o fim da votação no Senado Federal, por 61 votos, Dilma Rousseff é afastada da presidência. Michel Temer passa de “vice-decorativo” a presidente até 2018. Nestes 100 dias de governo Temer, os indicadores econômicos também andaram esboçando melhora.

Importante ressaltar que qualquer um dos os efeitos positivos observados podem ser decompostos em 3 partes, cada uma com um peso diferente, e que, juntos, compondo o efeito total: “Efeito Temer” + “Efeito fundo do poço” + “Alguma ajuda externa”.

O efeito Temer é a pura e simples retomada de confiança de que a economia brasileira vai começar a fazer os ajustes necessários, principalmente os de natureza fiscal. É uma espécie de crédito que está sendo dado ao governo interino. O efeito fundo do poço ou efeito Tiririca – pior que tá não fica – indica que a economia realmente chegou ao desastre completo e inicia uma tímida retomada. Finalmente, o efeito internacional, com o FED indicando uma subida de juros ainda mais frouxa, somada ao risco BREXIT e as taxas de juros em patamar negativo ao redor do mundo contra o juros de 14,25% do Brasil, atrai capitais e ajuda a diminuir o risco e explica em boa parte a queda do dólar em 2016.

Vamos começar com o indicador que mais subiu desde a entrada de Temer, a Bolsa de Valores. O efeito Temer bate forte em conjunto com o efeito externo, e é nítido o interesse do investidor externo em um Brasil pós Lava-Jato e em empresas bastante depreciadas em bolsa. Entre a mínima do período Temer, em vermelho no gráfico, o Ibovespa ganhou 19%.

[caption id="attachment_7532" align="aligncenter" width="626"]graf1 Ibovespa em pontos; Fonte: BM&F Bovespa[/caption]

Para capturar bem o otimismo externo, podemos olhar outra métrica interessante, essa mais voltada pra risco em si, o credit default swap, CDS. O CDS indica o risco do país dar um calote externo, e quanto menor, melhor. Considerando o governo Temer, o CDS recuou em média 100 pontos, trazendo o Brasil para um patamar mais próximo de emergentes com alto risco. Começou 2016 próximo a faixa dos 500 pontos, e conforme o processo de impeachment avançava era nítida a queda do CDS para patamares mais próximos de países de alto risco como Turquia e Russia.

[caption id="attachment_7533" align="aligncenter" width="626"]graf2 CDS – Credit Default Swap; Fonte: Bloomberg[/caption]

Em seguida, podemos olhar a melhora da expectativa dentro de casa. Analisando números do Boletim Focus ao longo de 2016 fica claro o ganho de confiança do mercado com o Governo. A expectativa da taxa de juros para o fim de 2016 se elevou um pouco, o que não é de todo ruim, mostrando que o mercado observa um certo comprometimento da nova gestão do Banco Central de tentar trazer a inflação de 2017 para a meta. Considerando o fato que 2016 é um caso perdido. Para 2017 a expectativa de inflação tem se aproximado cada vez mais da meta, com mais intensidade após Temer ter assumido.

[caption id="attachment_7534" align="aligncenter" width="628"]graf3 Expectativas IPCA – Relatório Focus; Fonte: Banco Central do Brasil[/caption]

Para 2016, a expectativa de inflação aumentou ao longo do governo Temer e a distância de quanto vai fechar o IPCA em relação à meta prevista pelo Banco Central cresceu, pouco, mas cresceu. Vale lembrar que boa parte do descontrole inflacionário vem de uma política fiscal equivocada e uma política monetária bastante frouxa, ambas praticadas no governo Dilma.

[caption id="attachment_7535" align="aligncenter" width="629"]graf4 Desvios das expectativas do IPCA em relação a meta de inflação; Fonte: Banco Central do Brasil; Elaboração Própria[/caption]

Em penúltimo vem os indicadores industriais, nitidamente os que mais melhoraram desde que Temer assumiu, pode ser uma mescla de efeito Temer com o efeito fundo do poço. Com a atual melhora da confiança é possível arriscar-se a dizer que estamos começando a sair do fundo poço, devagar, mas saindo…

[caption id="attachment_7536" align="aligncenter" width="629"]graf5 Índices de confiança da indústria; Fonte: FGV[/caption]

Por último, e não menos importante, um indicador de atividade, deprimente, porém revelador do estrago que vem acontecendo na economia.  Desde 2016 o IBC-br, índice de atividade mensal do Banco Central caiu mês a mês, porém em junho, último dado anunciado, ele andou positivamente em relação ao mês anterior, pela primeira vez em mais de 1 ano, indicando que uma recuperação da atividade pode estar a caminho. Aqui vale lembrar que é muito difícil que em apenas um mês de governo Temer a atividade tenha voltado a andar, e sim indica um efeito “fundo do poço” pura e simplesmente. E que o ganho de confiança de um novo governo apenas pode acelerar a saída. Não atrapalhar a economia agora, com medidas malucas, já seria uma grande ajuda…

[caption id="attachment_7537" align="aligncenter" width="627"]graf6 IBC-br; Fonte: Banco Central do Brasil[/caption]

Agora basta aguardar quais serão as próximas medidas de um “oficial” governo de Michel Temer, caso o Impeachment se concretize no Senado da república. É necessário dizer que melhoras da economia precisam ser vistas com muito cuidado, algumas podem ocorrer de melhoras criadas pelo governo, outras é pelo simples ajuste do ciclo econômico. Afinal de contas, estar no fundo do poço e se levantar alguns centímetros já é considerado uma melhora, não é mesmo?

Mas com o crédito dado pelo mercado ao novo governo é melhor acreditar que se está ruim com Temer, seria ainda pior sem ele…

victor

Victor Candido

Mestre em economia pela Universidade de Brasília (UnB). Economista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Foi economista-chefe de uma das maiores corretoras de valores do país, economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento e atualmente é sócio e economista de uma gestora de fundos de investimento. Foi pesquisador do CPDOC (O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV-RJ. Ajudou a fundar o Terraço Econômico em 2014.
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